Bahia, 20 de Abril de 2024
O INÍCIO DE EUNÁPOLIS

5 de Novembro, há 64 anos, era aclamada a fundação do povoado de Eunápolis
No dia 5 de novembro de 50, a pedido de Antônio Gravatá Filho, engenheiro-chefe da EMENGE, empresa encarregada da construção de um trecho.
Por: Teoney Guerra*
05/11/2014 - 12:36:52

No dia 5 de novembro de 50, a pedido de Antônio Gravatá Filho, engenheiro-chefe da EMENGE, empresa encarregada da construção de um trecho da BA-02 – hoje BR 101 -, foi celebrada uma missa na inauguração do escritório da empresa naquele local.

O ato religioso, uma Missa campal, foi celebrado onde é hoje a praça Dr. Eunápio Peltier de Queiroz, pelo padre Emiliano Gomes Pereira, pároco de Porto Seguro. Durante a homilia, o celebrante afirmou: “Aqui há de surgir um centro progressista, onde cristãos haverão de elevar bem alto os nomes de Jesus e do Brasil”, frase que se tornou célebre para o povo eunapolitano.

Na ocasião, ali foi erguido um Cruzeiro, o local denominado de Praça do Cruzeiro e a data aclamada fundação da povoação, então denominada de “Quilômetro 64”. Porém, foi a partir de meados da década de 1960, após a fundação do Clube Social de Eunápolis (em 24/12/1966), que a data passou a ganhar uma festa com características populares, com a realização de brincadeiras típicas da época, como corridas saco, de jegue e torneios de futebol. Tempos em que as ruas do povoado ainda eram de terra, sem designação – sem nomes -, e o que hoje são quarteirões nas principais ruas e avenidas, a exemplo da Porto Seguro e Santos Dumont, eram áreas de ocupação esparsa, com as pequenas casas e grandes quintais.

Com o desenvolvimento do Comércio e da povoação a partir da década de 70, as comemorações se tornaram uma grande festa popular, com uma duração de três ou quatro dias e uma programação com bailes, Missa, Concurso Literário, Festiva de Música regional, Programa de Calouros e atividades recreativas e esportivas. Mas o ponto alto era a Gincana, realizada sempre no dia 5, organizada pela própria comunidade, através de diversas entidades, como Lions, Rotary, lojas maçônicas e a participação de pessoas do meio social.

O evento durava todo o dia, adentrando a noite, e levava à avenida Porto Seguro e Praça da Bandeira multidões estimadas em até 30 mil pessoas, que lotavam as calçadas. Porém, o clima de expectativa e disputa já tomava conta da população ainda na véspera, com a formulação das questões, a cerimônia de apresentação das equipes e o Baile da Rainha. A apresentação das equipes participantes era feita a partir da avenida Porto Seguro. De cada quarteirão saía um grupo - algumas até com mais de 2 mil componentes, todos com as camisas iguais, como as festas de camisa de hoje -, que percorria a avenida até a praça da Bandeira, sob o aplauso das torcidas. Mis tarde, no Clube Social, em baile de gala era eleita a mulher mais bela, a Rainha da Gincana.

A disputa entre as equipes no dia seguinte movimentava todo o povoado, com os milhares de componentes correndo pelas ruas, entrando em casas, procurando cumprir as tarefas designadas, as mais variadas. Ora, descobrir a pessoa mais velha da povoação ou a mulher de cabelo mais comprido. Outras vezes, levar ao palanque, um vereador ou um médico fantasiado de palhaço ou vestido de baiana com um tabuleiro na cabeça; um maçom, vestido de preto, puxando um bode também preto, coisas inusitadas, muitas vezes engraçadas, que a todos fazia rir. Mas havia também tarefas culturais, como declamação de poemas de autores famosos.

A Oba Oba, Equipe Cão, Saporeca, a Urbis Quip são algumas das equipes ainda hoje lembradas, que disputaram as gincanas em diversas épocas.

Depois da Gincana, o público era presenteado com um show, ali mesmo, na praça com a apresentação de conjuntos famosos em toda a Bahia, como o Lordão ou Mike Five que fizeram época. Mais importante grupo musical de Eunápolis e de todo o extremo sul, Os Águias eram sempre presença obrigatória nessas festas.

Segundo os depoimentos de pessoas que viveram a época, a última edição dessa grande festa foi também a mais bonita, e teria durado quase uma semana. Ocorreu em 1987, durante o governo de Arnaldo Guerrieri em Santa Cruz Cabrália, ano em que o Ginásio de Esportes Antônio Carlos Magalhães foi inaugurado. Por isso, os bailes foram transferidos do Clube Social, para o Ginásio, animados por ícones da música brasileira, o conjunto Os Fevers e o cantor Geraldo Azevedo.

A partir do ano seguinte, com a emancipação, a tradição foi “quebrada”, e o 12 de Maio, data da criação do município, assumiu a condição de data mais importante do povo eunapolitano.

*Teoney Guerra é jornalista e pesquisador da história de Eunápolis. 

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