A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel, no sul da Bahia, foi palco de um avanço inédito para a ciência e a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica. Um estudo conduzido por estudantes do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) utilizou a técnica de DNA ambiental (eDNA) para identificar a presença de espécies raras, ameaçadas e até invasoras, na floresta protegida.
Por meio da coleta de fragmentos genéticos deixados no ambiente por diferentes espécies (como pelos, fezes, saliva e urina), a pesquisa revelou uma diversidade ainda maior do que a prevista nos registros oficiais da RPPN. Entre os destaques estão a detecção de onça-parda (Puma concolor), tatu-canastra (Priodontes maximus), pequenos marsupiais e até javali (Sus scrofa), uma espécie invasora. O estudo ainda indicou a possível descoberta de uma nova espécie de anfíbio.
“Essa abordagem reduz tempo e custos em comparação aos métodos convencionais, e é especialmente relevante numa região que abriga alguns dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do país”, afirma o biólogo Thiago Mafra, professor da UFSB e coordenador do projeto.
Líder da pesquisa sob a coordenação de Mafra, a estudante de Ciências Biológicas Leila Santana conduziu as coletas em poças permanentes e córregos da reserva, além de ser responsável pela extração do DNA no Laboratório de Genética e Biologia Molecular da UFSB. Segundo Leila, “a técnica permite monitorar ambientes de forma rápida e eficiente, possibilitando a detecção de espécies que são difíceis de serem observadas por métodos tradicionais”.
Os dados do estudo já estão sendo utilizados para atualizar o Plano de Manejo da reserva e embasar novas estratégias de conservação, como a criação de corredores ecológicos e a proteção de habitats prioritários. Além da contribuição científica, o projeto também cumpre um importante papel formativo, conectando jovens pesquisadores à prática da conservação em campo.
“A Mata Atlântica é um bioma riquíssimo e conhecer essa biodiversidade local é fundamental para desenvolver ações de conservação cada vez melhores. O eDNA permite ampliar o alcance e eficiência para registrar espécies que não detectávamos com as técnicas tradicionais, além de cobrir áreas maiores de forma menos invasiva.”, destaca Marco Aurélio Santos, coordenador de Estratégia Ambiental e Gestão Integrada da Veracel.
Com mais de 6 mil hectares preservados nos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, a Estação Veracel é reconhecida pela UNESCO como Sítio do Patrimônio Mundial Natural. A unidade é referência em conservação no Nordeste e uma importante aliada na proteção de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção.