Uma das empresas mais impactadas pelo tarifaço anunciado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, em cima das exportações brasileiras será a Suzano, gigante global da produção de papel e celulose. Entre todas fábricas da multinacional brasileira no país (além da do Espírito Santo, há unidades em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Bahia, Ceará, Maranhão e Pará), a mais afetada é a de Aracruz.
Números apresentados por executivos da própria companhia, na primeira reunião do comitê criado pelo governo do Estado para reagir aos impactos da tarifa na economia capixaba, nesta segundafeira (28), mostram o seguinte: 52% de tudo o que foi produzido pela Suzano no Estado foi para os Estados Unidos - US$ 559 milhões (R$ 3,13 bi) e 1,035 milhão de toneladas, em 2024. Em 2025,
já foram negociados US$ 250,5 milhões (R$ 1,4 bilhão) e 520,8 mil toneladas com os norteamericanos. Portanto, estamos falando de uma pancada sem precedentes em uma das maiores empresas do Espírito Santo. Os grandes compradores são pesos-pesados da indústria dos EUA: Kimberly Clark e Procter & Gamble, dois dos maiores fabricantes de papel de higiene pessoal do mundo. Há décadas, desde os tempos de Aracruz Celulose, que a fábrica capixaba produz celulose sob medida para os clientes dos Estados Unidos. A mistura de madeira e os produtos químicos utilizados são específicos. Só se chega a este nível de personalização após anos de estudos. Ou seja, o tarifaço é bem ruim para a fabricante brasileira, mas é muito ruim para eles também.
Por isso, há uma articulação forte em andamento entre vendedores e compradores. "A mudança de cliente, no nosso caso, significa mudar o padrão da fábrica, o que não se faz da noite para o dia. É muito ruim para nós, mas é para eles também, afinal, se veriam obrigados a mudar um fornecedor de décadas. É uma situação complicada", explicou uma executiva da Suzano.
Se nada for alterado até sexta, quando o tarifaço anunciado passa a valer, a companhia brasileira perderá competitividade nos Estados Unidos e pode se ver obrigada a buscar novos mercados.
México (que abriga unidades fabris dos clientes norte-americanos da Suzano) e China (com novos compradores) são vistos como boas opções. E o mercado brasileiro? Não absorve a produção que vai sobrar.
Os planos A, B e até C estão na mesa, mas, a três dias do prazo dado por Trump para o início da cobrança, o desejo número um é que a diplomacia e a racionalidade prevaleçam e um acordo equilibrado saia do papel. Nenhuma das alternativas é simples, portanto, mantido o que está anunciado - tarifa de 50% em cima de todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto -, o cenário de médio prazo (início de 2026) é tido como insustentável para o tamanho atual da produção.