O libertário Javier Milei (A Liberdade Avança) é o novo presidente da Argentina. O economista, que inicialmente aparecia como o favorito das eleições presidenciais por causa do resultado da PASO (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias), ficou em segundo lugar no primeiro turno e precisou correr atrás para conseguir angariar votos do centro para conseguir chegar à presidência. Os resultados oficiais não foram divulgados, mas Sergio Massa (União pela Pátria) reconheceu a derrota e anunciou que já parabenizou o adversário por sua vitória, em ligação telefônica. Com 87% das urnas apuradas, o candidato de A Liberdade Avança alcançou 55% dos votos válidos contra 45% do representante peronista.
A eleição, uma das mais importantes da história da Argentina e marcada pela polarização, foi bastante acirrada, com os dois candidatos disputando voto a voto. As pesquisas realizadas e divulgadas antes da eleição mostravam cenários contraditórios: ora com Milei na liderança, ora com Massa na frente. Os argentinos precisaram escolher entre a continuação do sistema político que há anos comanda o país e uma mudança radical que nunca havia sido testada.
Com a vitória deste domingo, o economista de 53 anos acaba com o governo peronista e promete uma Argentina diferente para a população, com propostas de governo bastante radicais. O anarcocapitalista, contudo, tem missões difíceis pela frente, sendo a principal delas a situação econômica da Argentina. Além disso, será necessário reconectar a população que, assim como em outras partes do mundo, ficou dividia e polarizada neste mais recente pleito. Na véspera da decisão, a inflação em 12 meses atingiu 142,7% em outubro, mês em que o aumento de preços foi de 8,3%, informou o Instituto Nacional de Estatística argentino. O resultado foi uma leve desaceleração em relação a agosto, quando o aumento foi de 12,7%.
O problema da inflação tem sido crônico na Argentina, mas nos últimos dois anos o índice de preços ao consumidor (IPC) teve um forte aumento e está entre os mais altos do mundo. Internamente, o índice de inflação atual é um dos mais altos em três décadas. No país, vigora desde 2019 um sistema de controle cambial, e o governo do presidente peronista Alberto Fernández promove acordos de preços com produtores e distribuidores na tentativa de reduzir os aumentos em setores como alimentos e combustíveis. Nas últimas semanas, Massa anunciou a suspensão temporária da cobrança de impostos sobre os combustíveis, para limitar o aumento de preços e também para reativar o abastecimento, que foi afetado após o primeiro turno das eleições em 22 de outubro. A Argentina passou por dois períodos de hiperinflação, em 1989 e também em 1990.
Novo na política, Javier Milei conquistou um assento nas eleições legislativas de 2021, quando recebeu 17% dos votos na cidade de Buenos Aires. Agora, como chefe de Estado, tem como principais propostas de governo a eliminação do Banco Central e dolarização a economia, além de permitir o livre porte de armas. Fernando Cerimedo, coordenador de campanha de Milei, resumiu parte de seu sucesso em uma receita simples. “Foi o único candidato que apresentou um projeto, que contou o que queria fazer. Goste você ou não, foi o único a fazê-lo. O povo se cansou de tudo o que vinha acontecendo, das promessas não cumpridas”, disse. Para os especialistas ouvidos pelo site da Jovem Pan, a vitória de Milei representa uma mudança total de tudo que já foi visto no país e uma incerteza, uma vez que ele pretende inovar.
Contudo, é importante que ele vá além do seu partido político, para conseguir maioria no Congresso, que está bastante fragmentado. Há, aqui, um paradoxo: para implementar suas propostas, o libertário de extrema-direita precisará governar pela política, embora tenha sido eleito ecoando um discurso anti-establishment. Ele também vai precisar mudar sua postura em relação à forma que pretende lidar com as relações internacionais da Argentina. Ele declarou durante a campanha que não pretende ter relações com o Brasil e com a China, os maiores parceiros comerciais do país.