Abaixo, o texto escrito pelo jornalista Lourival Jácome, sobre a vinda do mestre Ariano Susssuna, quando esteve em Eunápolis, a convite do ex-prefeito Robério Oliveira, através da Secretaria de Educação, para proferir importante e histórica palestra, durante a II Jornada Pedagógica, no dia 26 de fevereiro de 2008.
Veja a matéria:
Contando causos engraçados de Taperoá, no interior da Paraíba, onde aprendeu suas primeiras letras, viajando sobre as artes como forma de elevar a importância da cultura e da educação brasileiras, o escritor Ariano Suassuna, prendeu a atenção de quase 1,5 mil pessoas em palestra nesta terca-feira (26/02) no auditório do Hotel Portal, com o tema "buscando um caminho para a arte do povo brasileiro", dentro da II Jornada Pedagógica de Eunápolis, que acontece nesta cidade desde o último dia 25 e se estende até o próximo dia 29.
Ariano Vilar Suassuna, advogado, professor, teatrólogo e romancista, é também membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira nº 32. Atualmente é secretário de Cultura do estado de Pernambuco, onde executa programas culturais que transcendem as fronteiras nordestinas, repercutindo em todo o país, pela forma como enfoca a riqueza cultural do Brasil.
Um público de 800 professores da rede municipal, outros 280 da estadual e pouco mais de 100 de escolas particulares deliciava-se com os causos de Suassuna, que entremeava suas explanações com a crítica política implícita. Ao exibir um áudio visual com a arte pernambucana de fazer dança e música, lembrou que tais manifestações eram combatidas e escondidas em certas épocas. "Escodem o filé da cultura e dão os ossos para a juventude brasileira", arrematou, referindo-se à censura no período da ditadura militar.
À medida que relaxava e aumentava a empatia com o público, citando aqui ou acolá um dos seus parceiros, a exemplo de Capiba, Suassuna crescia em inspiração, deixando evidenciar que reservadas as características regionais,"tanto faz no Amazonas, como no Paraná, a veia cultural do povo brasileiro é a mesma", disse, referindo-se ao paraíso lingüístico identificado por Darcy Ribeiro e constatado por ele nas viagens que faz pelo país com suas palestras.
Enfatizando a educação acima de tudo e afirmando que a arte e a cultura são meios de promoção da alegria e da felicidade, deu mais uma alfinetada na classe política: "não há tirania que resista a uma gargalhada", disse, parafraseando o francês Molière, uma das suas referências no teatro universal. Pela manhã, em entrevista ao rádio, já afirmara sua inspiração em José Cândido de Carvalho na literatura, sem deixar de lembrar outras influência positivas, dentre elas, Jorge Amado.
"Nunca tive dificuldade em escrever. Basta ir ao interior do país e as coisas acontecem. Em qualquer lugar eu encontro meus personagens", destacou o escritor ao incentivar a todos o hábito da leitura, que na sua percepção tem sido esquecido em razão das muitas atribuições das pessoas e por ações nem sempre positivas neste sentido, por parte de alguns meios de comunicação.
Ariano Suassuna escreveu para o teatro, o cinema e a TV. Destacam-se em sua obra diversificada o "Romance A Pedra do Reino" e o "Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta", este último laureado com o Prêmio Nacional de Ficção conferido em 1972. Mas o reconhecimento nacional aconteceu com "O auto da compadecida", transformado em mini-série exibida pela Rede Globo.
"Há muitos anos a gente não é premiado com um banho de cultura como este", disse um professor da rede municipal, extasiado com a argumentação e simplicidade do escritor que se mantém firme e risonho no alto dos seus 81 anos de idade. Outros que nunca tiveram oportunidade de assistir a um evento deste tipo, saíram do local encantados com a palestra.
"Essa é uma das contribuição que podemos prestar para o aprimoramento da bagagem cultural dos nossos professores, não apenas para que eles transmitam aos alunos o sentimento que um encontro desse possa inspirar, mas para eles próprios, que merecem momentos, como todos nós, momentos de leveza assim", disse o prefeito Robério Oliveira, que assistiu a palestra ao lado da secretária de Educação Terezinha Farias, de dirigentes de escolas municipais e convidados.
No mesmo local, na noite anterior, aconteceu a palestra do pedagogo Roberto Carlos, um ex-menino de rua, também contador de histórias, que também fez o público sorrir, mas que deixou a mensagem de fortalecimento da educação e de responsabilidade de todos os professores em relação à juventude brasileira.
A jornada pedagógica é conclave periódico destinado a agregar o pensamento de todos os envolvidos no processo da educação, com vistas a aprimorar o trabalho do professor e de todos os responsáveis diretos e indiretos pela educação, desde a alfabetização até a graduação.
PL E PMB / EUNÁPOLIS
CONFLITOS INTERNACIONAIS
